A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O sol atrai, mas o poder se esconde nas sombras


Essa frase, carregada de poesia sombria, toca um ponto sensível da dinâmica do poder: sua verdadeira natureza raramente brilha sob os holofotes. Os "amadores", aqui, são os encantados pela visibilidade, pelo reconhecimento público, pela ideia romântica de liderança. Procuram o sol porque acreditam que é ali que reside a força — na glória, na aclamação, na luz da popularidade. Mas o que acontece quando se aproximam demais dessa claridade? São devorados. O poder, como bem sabiam Maquiavel e Foucault, não é essa chama brilhante que seduz os ingênuos, mas sim uma rede intricada de relações, controle e estratégia que opera nas entrelinhas da sociedade.

Maquiavel já alertava, em O Príncipe, que governar exige mais astúcia do que virtude pública. O governante eficaz deve saber manipular as aparências, mas nunca confiar nelas como fonte de poder duradouro. O brilho público pode até ser necessário, mas é enganoso e perigoso para quem acredita que ali está o verdadeiro controle. O poder não se afirma na exposição, mas na capacidade de operar a partir das sombras — onde se articulam as alianças, onde se neutralizam inimigos, onde se moldam as regras do jogo sem que os jogadores percebam.

Foucault, por sua vez, desconstrói a ideia de poder como algo que se possui e exibe. Para ele, o poder é difuso, capilar, está em toda parte — mas sua eficácia está justamente em não se deixar ver. Quanto mais invisível, mais forte. Os que se expõem demais tornam-se vulneráveis, alvos fáceis de críticas, escândalos e disputas.

Na política prática, isso é evidente. Figuras que controlam estruturas inteiras, como chefes de bastidores, presidentes de partidos, conselheiros e operadores do sistema, muitas vezes são desconhecidas do público, mas têm um peso decisivo nas engrenagens do poder. Enquanto isso, os que se projetam demais frequentemente enfrentam quedas espetaculares, como Ícaro diante do sol.

Portanto, entender o poder é entender o valor do silêncio, da invisibilidade e da estratégia. A política, para os que a dominam, é antes um jogo de sombras do que um espetáculo de luzes.

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