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Mostrando postagens de julho, 2025

A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O crepúsculo da política: quando o poder se torna autônomo

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A frase “O poder está cada vez mais separado da política, e a política está cada vez mais impotente diante do poder” é o diagnóstico lúcido de uma era marcada pelo divórcio entre as instituições políticas tradicionais e os verdadeiros centros de comando que moldam o destino das sociedades. A política, entendida como a arena pública onde se debatem e decidem os rumos coletivos, perde protagonismo para formas de poder cada vez mais difusas, invisíveis e tecnocráticas, que operam à margem do escrutínio democrático. Historicamente, o poder sempre buscou vestir a roupagem da política para se legitimar. De Alexandre, o Grande a Luís XIV, passando por Napoleão Bonaparte, o exercício do poder requeria um teatro político: conselhos, parlamentos, assembleias ou plebiscitos que, mesmo manipulados, serviam para emprestar legitimidade às decisões. O poder, portanto, era inseparável da política como forma de mediação entre governantes e governados. Entretanto, o desenvolvimento das corporações multi...

O silêncio dos cúmplices: como a tirania se alimenta da omissão

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Não é com tanques nas ruas ou decretos em praça pública que a tirania firma suas raízes. É no cotidiano desapercebido, na covardia revestida de prudência, no medo disfarçado de neutralidade que ela se consolida. A frase que nos guia — “Quando a tirania se instala, não se ouvem canhões — apenas os silêncios daqueles que deixaram de falar” — não é apenas uma constatação melancólica, é uma acusação histórica. Um espelho incômodo diante das elites omissas, dos intelectuais tímidos, dos cidadãos adaptáveis. Ao longo da história, regimes opressivos raramente nasceram em meio ao clamor bélico. Mesmo Hitler ascendeu pelo voto e pelo silêncio de uma república fatigada. Mussolini foi recebido com aplausos por uma burguesia que preferia ordem à liberdade. No Brasil, o AI-5 não foi precedido por explosões, mas por editoriais coniventes e reuniões silenciosas. A tirania não grita, ela sussurra — e conta com a surdez voluntária dos que poderiam contestá-la. O mecanismo é simples e perverso: primeiro...