A ascensão da queda: a tragédia silenciosa de um povo iludido

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Durante quarenta anos, uma nação foi convencida de que marchava rumo à justiça, quando na verdade se arrastava rumo à decadência. A frase que expõe a queda do Brasil do 40º para o 81º lugar no ranking global de renda não é apenas um dado econômico — é o epitáfio de uma ilusão coletiva. Uma farsa histórica encenada por elites culturais que confundiram piedade com política, equidade com estatismo, e justiça com nivelamento por baixo. Essa é a anatomia de uma regressão orquestrada, em nome de ideais que se proclamam nobres, mas produzem apenas estagnação. Desde o final da ditadura militar, o Brasil viveu um processo profundo de reengenharia ideológica. Em nome da “democratização do saber”, intelectuais militantes ocuparam universidades, redações e escolas com a missão de substituir o mérito pelo ressentimento, e a liberdade pela tutela do Estado. Inspirados por um marxismo tropical, reinventaram o conceito de opressão: toda hierarquia virou injustiça, toda riqueza virou suspeita, e todo s...

O crepúsculo da política: quando o poder se torna autônomo


A frase “O poder está cada vez mais separado da política, e a política está cada vez mais impotente diante do poder” é o diagnóstico lúcido de uma era marcada pelo divórcio entre as instituições políticas tradicionais e os verdadeiros centros de comando que moldam o destino das sociedades. A política, entendida como a arena pública onde se debatem e decidem os rumos coletivos, perde protagonismo para formas de poder cada vez mais difusas, invisíveis e tecnocráticas, que operam à margem do escrutínio democrático.

Historicamente, o poder sempre buscou vestir a roupagem da política para se legitimar. De Alexandre, o Grande a Luís XIV, passando por Napoleão Bonaparte, o exercício do poder requeria um teatro político: conselhos, parlamentos, assembleias ou plebiscitos que, mesmo manipulados, serviam para emprestar legitimidade às decisões. O poder, portanto, era inseparável da política como forma de mediação entre governantes e governados.

Entretanto, o desenvolvimento das corporações multinacionais, dos mercados financeiros globais e das redes digitais de informação criou novos vetores de poder que não precisam mais da política tradicional para operar. A política tornou-se, para esses agentes, um obstáculo ou uma fachada, enquanto o poder verdadeiro deslocou-se para espaços tecnocráticos e financeiros, onde decisões com impacto planetário são tomadas longe das urnas e do debate público. As agências de rating podem destruir economias nacionais com um simples rebaixamento; algoritmos invisíveis decidem o que será visto, lido ou comprado; e bancos centrais redefinem o valor das moedas sem consulta a qualquer parlamento.

O fenômeno contemporâneo é a ascensão do “poder apolítico” — uma capacidade de comando que não se submete às lógicas tradicionais de representação e soberania. Exemplo eloquente disso é o poder das grandes empresas de tecnologia: elas controlam as infraestruturas do discurso público, as comunicações privadas e até a segurança nacional de alguns países, mas não são submetidas a parlamentos ou eleições. O poder soberano, como descreveu Carl Schmitt, é aquele que decide sobre a exceção — e hoje, frequentemente, são CEOs, tecnocratas e financistas, não presidentes ou primeiros-ministros, que tomam essas decisões cruciais.

A lição estratégica que emerge desse diagnóstico é clara: quem aspira ao poder ou à liderança institucional não pode mais restringir sua ação à política formal. O verdadeiro jogo de poder acontece em múltiplos tabuleiros, muitos deles escondidos sob a superfície das instituições democráticas. O líder que não compreender a lógica desses novos centros de poder será, inevitavelmente, um títere ou um espectador impotente. Por isso, é necessário cultivar uma visão sistêmica e transversal, capaz de mapear os fluxos reais de influência, identificar os nós de comando invisíveis e compreender os mecanismos que permitem que o poder se exercite sem precisar da política.

A política, por sua vez, só poderá reconquistar alguma relevância se assumir uma postura de enfrentamento lúcido. Isso exige reformular suas práticas, romper com o teatro vazio da representatividade e buscar retomar o controle sobre os mecanismos que hoje lhe escapam. A refundação da política passa, inevitavelmente, pela capacidade de regular e submeter os novos centros de poder a algum tipo de controle coletivo, ou, no mínimo, de negociação.

Concluo, pois, com uma advertência que ecoa como um chamado: aos que ainda acreditam na política como força civilizatória, saibam que o inimigo não está mais apenas do outro lado da bancada parlamentar, mas disperso nas redes de dados, nas bolsas financeiras e nos conselhos administrativos que nunca enfrentam eleições. Ignorar essa realidade é condenar-se à irrelevância. O poder não desapareceu; apenas mudou de rosto — e quem não souber reconhecê-lo será, cedo ou tarde, esmagado por ele.

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