A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

Esta é a seca mais grave nas regiões Norte e Nordeste desde 1980. O fenômeno climático conhecido como El Niño, impulsionado pelo aquecimento da superfície do Oceano Pacífico, é o principal culpado pela seca. Embora não possamos controlar o El Niño, podemos e devemos nos preparar para seus efeitos previsíveis. Os alertas sobre a intensidade do El Niño para este ano foram dados desde 2022, e em junho passado, instituições federais já haviam informado sobre as consequências esperadas.
A situação no Norte do Brasil é desafiadora. Mais de 500 mil brasileiros estão sendo diretamente afetados, com 60 municípios declarando situação de emergência. Os rios, como o Solimões e o Negro, viram seus níveis diminuírem drasticamente, causando um impacto profundo nas comunidades que deles dependem para sobreviver. As áreas de várzea, que costumavam ser exploradas pela agricultura familiar, estão agora improdutivas, e a pesca tornou-se inviável. Além disso, o risco de incêndios florestais aumentou devido ao ar seco. O linhão de transmissão das usinas no Rio Madeira teve que ser desligado, e as termoelétricas estão sendo ativadas para evitar um colapso no fornecimento de energia na região.
É preocupante observar que o governo federal só agiu na região quando a tragédia já estava consumada, com vítimas como os moradores da vila de Beruri, que sofreram com a falta de vazão no Rio Purus. O pacote de ajuda apresentado posteriormente, incluindo o envio de médicos e brigadistas e a dragagem do Rio Solimões, é importante, mas é o mínimo que se espera em uma situação de emergência como essa.
A remoção às pressas das famílias de agricultores pelo governo do Amazonas, se realmente for necessária, será um triste resultado da inação diante de uma seca que foi prevista com antecedência. É irônico que, enquanto enfrentamos essa crise internamente, o Brasil planeje apresentar propostas sobre o planejamento da transferência de populações afetadas pelo aquecimento global em fóruns internacionais. O Brasil precisa urgentemente investir em sua capacidade de antecipar tragédias naturais e climáticas e agir de forma preventiva para proteger seus cidadãos.
Os brasileiros têm o direito de esperar que seus governantes ajam com responsabilidade e antecipação diante de crises como a atual seca no Norte. A falta de planejamento prévio não pode mais ser tolerada, pois os impactos do aquecimento global e dos fenômenos climáticos extremos são uma realidade que não pode ser ignorada. É hora de o Brasil se preparar melhor e garantir a segurança e o bem-estar de sua população diante dessas adversidades climáticas.
Comentários
Postar um comentário