A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

A Economia política da tributação: reflexões a partir de Milton Friedman


Nas discussões sobre política econômica, poucas figuras são tão divisivas e influentes quanto Milton Friedman. Economista laureado com o Nobel, Friedman é frequentemente associado ao neoliberalismo e a uma firme crença na mínima intervenção estatal na economia. Uma de suas críticas mais contundentes diz respeito à estrutura tributária, a qual, segundo ele, "tributa cada vez mais o trabalho e subsidia o não trabalho". Esta afirmação abre um leque de discussões sobre os efeitos da tributação e os incentivos econômicos que ela cria.

A tributação sobre o trabalho, em muitas economias, é substancial. Ela engloba impostos diretos sobre a renda, contribuições para a segurança social e outras taxas que diminuem a renda líquida do trabalhador. Friedman argumentava que, ao sobrecarregar o trabalho com altos impostos, o governo desincentiva a produção, a inovação e o empreendedorismo. Em contraste, ao subsidiar o não trabalho, através de programas de assistência social sem contrapartidas claras de incentivo ao retorno ao mercado de trabalho, pode-se criar uma dependência permanente desses programas, desestimulando a busca por emprego.

Porém, é importante considerar que a perspectiva de Friedman não é unanimemente aceita. Economistas e filósofos sociais de vertentes mais progressistas, como John Maynard Keynes ou Karl Marx, poderiam argumentar que a tributação progressiva e os subsídios sociais são essenciais para corrigir desigualdades inerentes ao capitalismo e garantir um mínimo de bem-estar social. Para Keynes, por exemplo, a intervenção estatal na economia, inclusive por meio da tributação, é vital para manter a demanda agregada e evitar ciclos econômicos de boom e busto.

Além disso, a noção de que subsídios ao "não trabalho" meramente incentivam a preguiça é contestada por estudos que mostram como programas de assistência social podem oferecer um trampolim para a reintegração no mercado de trabalho, ao proporcionar estabilidade temporária que permite a busca por emprego ou requalificação.

No entanto, a preocupação com o equilíbrio entre incentivar o trabalho e fornecer uma rede de segurança social é válida. Economias modernas enfrentam o desafio de encontrar esse equilíbrio, buscando sistemas tributários que sejam justos, eficientes e que não desestimulem a produtividade. Isso envolve uma análise cuidadosa dos impactos de diferentes tipos de impostos e subsídios, considerando não apenas os efeitos econômicos imediatos, mas também os sociais e a longo prazo.

A lição que podemos tirar das críticas de Friedman é a importância de questionar e avaliar continuamente as políticas econômicas e tributárias. A busca por um sistema que promova a equidade sem sacrificar a eficiência econômica é um desafio constante. Enquanto a visão de Friedman fornece um ponto de partida crítico para essa discussão, ela também convida a um diálogo mais amplo sobre como estruturar políticas econômicas que atendam aos objetivos de uma sociedade justa e próspera.

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