A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O Jogo das alianças: "O inimigo do meu inimigo é meu amigo"


No jogo da política e do poder, a máxima "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" serve como uma bússola para navegar por alianças muitas vezes transitórias, mas estrategicamente vitais. Este princípio, embora simples, encapsula a complexidade das relações de poder e as táticas de manipulação que moldam tanto as políticas internas quanto as externas ao redor do mundo.

A origem dessa frase pode ser traçada até os tempos antigos, evidenciando sua longevidade e relevância atemporal. Na prática, ela reflete a realpolitik — uma abordagem da política ou diplomacia baseada principalmente em considerações práticas e fatores, em vez de ideais ou morais. A realpolitik enfatiza o poder, a sobrevivência do Estado e a necessidade de pragmatismo nas relações internacionais.

Um exemplo clássico dessa dinâmica pode ser observado durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a União Soviética buscaram alianças com países terceiros, não por uma afinidade ideológica genuína, mas como uma forma de contrabalançar o poder do outro. Neste contexto, países anteriormente considerados adversários poderiam se tornar aliados temporários, contanto que seus interesses se alinhassem contra um inimigo comum.

Este princípio não se limita à esfera internacional. Na política doméstica, coalizões inesperadas podem surgir entre partidos ou facções rivais para derrubar um adversário político poderoso. Tais alianças são frequentemente formadas não por um acordo ideológico, mas por um interesse mútuo em superar um oponente comum.

Filósofos políticos como Maquiavel destacaram a importância da astúcia e da estratégia nas relações de poder. Maquiavel, em "O Príncipe", sugere que o governante sábio deve usar todos os meios necessários para manter o poder e a estabilidade do Estado, incluindo a formação de alianças temporárias com inimigos de seus inimigos.

No entanto, essas alianças podem ser tão voláteis quanto as circunstâncias que as criaram. A história está repleta de exemplos em que tais alianças se desfazem assim que o inimigo comum é derrotado ou quando os interesses se desviam. Isso reflete a visão de sociólogos como Max Weber, que analisou o poder e a dominação como características centrais da sociedade, sugerindo que as relações de poder estão sempre em fluxo, sujeitas às mudanças nas alianças e nos interesses.

A aplicação prática do princípio "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" requer uma análise cuidadosa das dinâmicas de poder e dos interesses em jogo. Embora possa oferecer uma solução a curto prazo para um desafio político, os atores devem estar cientes das potenciais repercussões a longo prazo dessas alianças transitórias. A história nos ensina que, embora tais alianças possam ser estrategicamente vantajosas, elas também podem levar a resultados imprevistos, alterando o equilíbrio de poder de maneiras que podem ser difíceis de antecipar.

Assim, enquanto a política e o poder continuarem a ser um jogo de interesses entrelaçados e alianças cambiantes, o princípio "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" permanecerá uma tática relevante, embora arriscada, no arsenal dos estrategistas políticos.

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