A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

Margaret Thatcher e a lição econômica: a origem do dinheiro público


Margaret Thatcher, a primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990, permanece uma das figuras mais influentes na política contemporânea, não apenas por suas políticas e estilo de liderança, mas também por suas visões marcantes sobre economia e sociedade. Uma de suas frases mais citadas, "Não há dinheiro público, o que há é o dinheiro dos pagadores de impostos", encapsula uma visão fundamental sobre a gestão econômica e a responsabilidade governamental. Este conceito não apenas ilumina o pensamento econômico de Thatcher, mas também oferece uma lição atemporal sobre a natureza do financiamento público e a importância da responsabilidade fiscal.

Thatcher, também conhecida como a "Dama de Ferro", defendia fervorosamente o liberalismo econômico, enfatizando a redução da intervenção do estado na economia, a privatização das empresas estatais e o controle da inflação sobre o fomento ao emprego. Sua citação sobre o dinheiro público destaca uma perspectiva fundamental que via o governo não como um produtor de riqueza, mas como um administrador dos recursos arrecadados dos cidadãos através de impostos. Para Thatcher, cada libra gasta pelo governo tinha que ser arrecadada primeiro dos contribuintes, e, portanto, o governo tinha o dever de gastar esse dinheiro de maneira sábia e eficiente.

Esta visão reflete uma compreensão profunda da relação entre o Estado e os cidadãos, uma que coloca a liberdade individual e a responsabilidade pessoal no coração da política fiscal. É uma lição que ressoa bem além das fronteiras do Reino Unido ou do período específico de Thatcher no poder. Ao longo dos anos, essa perspectiva influenciou políticas econômicas ao redor do mundo, promovendo uma reflexão sobre o tamanho e o papel do governo na economia.

A filosofia de Thatcher ecoa a visão de filósofos liberais clássicos como John Locke, que via o governo como um meio para proteger a liberdade individual, a propriedade e a vida dos cidadãos, com o governo operando com o consentimento dos governados. Essa noção de consentimento é crítica; ao pagar impostos, os cidadãos estão confiando ao governo uma parte de sua propriedade sob o entendimento de que será usado para o bem comum.

No entanto, o conceito de Thatcher também levanta questões importantes sobre a eficácia e a moralidade das políticas de austeridade, a distribuição justa dos recursos e a definição de "bem comum". Sociólogos como Max Weber e Karl Marx oferecem perspectivas divergentes que enriquecem o debate sobre o papel do Estado e a distribuição de recursos. Weber, com seu foco na burocracia e racionalidade, pode fornecer insights sobre a eficiência na gestão dos recursos públicos, enquanto a crítica de Marx à alienação e exploração sob o capitalismo questiona quem realmente se beneficia do uso dos recursos públicos.

A lição de Thatcher sobre dinheiro público versus dinheiro dos pagadores de impostos serve como um ponto de partida para discussões mais amplas sobre fiscalidade, responsabilidade do governo e a relação entre o estado e os cidadãos. Ao refletir sobre essas questões, os cidadãos e formuladores de políticas são incentivados a considerar não apenas a eficiência econômica, mas também a justiça social e a equidade na alocação de recursos públicos.

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