A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

Além do bem e do mal: a linha tênue entre heróis e vilões


A ideia de que a definição de um ser humano como vilão ou herói é simplista ou ignorante das suas complexidades reflete uma visão profunda sobre a natureza humana e as narrativas sociais. Essa visão aponta para a forma como, muitas vezes, a sociedade, a mídia e até mesmo a história reduzem pessoas a arquétipos simplificados, ignorando as nuances e contradições que fazem parte da experiência humana.

Em novelas, filmes e outras formas de narrativa, personagens são frequentemente enquadrados como heróis ou vilões para facilitar a compreensão da trama e para engajar emocionalmente o público. Essas categorias claras ajudam a criar uma narrativa envolvente e fácil de seguir, mas sacrificam a profundidade e a complexidade que constituem o ser humano. Na vida real, essa dicotomia raramente existe. As pessoas são um amálgama de virtudes e falhas, influenciadas por uma infinidade de fatores, como cultura, educação, experiências pessoais e circunstâncias socioeconômicas.

A filósofa Hannah Arendt, ao estudar a "banalidade do mal" no contexto dos julgamentos de guerra pós-Segunda Guerra Mundial, trouxe à tona a ideia de que indivíduos envolvidos em atos considerados monstruosos não são necessariamente "vilões" no sentido tradicional, mas sim seres humanos comuns que, sob certas condições, se tornam agentes de sistemas perversos. Isso nos força a questionar até que ponto as ações de uma pessoa são resultado de sua própria natureza ou de pressões externas.

Além disso, o sociólogo Zygmunt Bauman explorou em sua obra "Modernidade e Holocausto" como sistemas sociais e burocracias podem transformar pessoas comuns em perpetradores de atrocidades, mostrando que o "herói" e o "vilão" podem existir simultaneamente em um mesmo indivíduo, dependendo do contexto e das circunstâncias.

Dessa forma, quando alguém é rotulado simplesmente como herói ou vilão, há uma tendência de se ignorar a complexidade de suas motivações, os dilemas morais que enfrentam e as influências externas que moldam suas ações. Essa simplificação pode ser prejudicial, pois impede uma compreensão mais profunda do comportamento humano e das condições que levam a determinadas ações.

No mundo real, a categorização de alguém como vilão ou herói frequentemente serve a interesses políticos e sociais, sendo utilizada para justificar ações ou para manipular a opinião pública. Governos, líderes e movimentos sociais têm historicamente usado essa tática para moldar narrativas que favorecem seus objetivos. Assim, definir alguém como herói ou vilão é mais uma ferramenta de poder do que uma avaliação justa e completa da pessoa em questão.

Portanto, ao analisar a vida de uma pessoa, é essencial resistir à tentação de encaixá-la em categorias simples e predeterminadas. É mais frutífero reconhecer as complexidades, contradições e contextos que moldam cada indivíduo, entendendo que a realidade humana é muito mais rica e intricada do que qualquer narrativa simplificada pode captar.

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