A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

Essa omissão pode ser vista como um terreno fértil para a corrupção, o nepotismo e a perpetuação de práticas que servem a interesses particulares em detrimento do bem comum. Platão, em sua obra "A República", já alertava para os perigos da apatia política. Ele afirmava que "o preço a pagar por não se envolver na política é ser governado por quem é inferior". Essa visão de Platão ressoa com a ideia de que, ao se afastar do processo político, o cidadão comum concede espaço para que líderes menos capacitados ou éticos assumam o controle.
Além disso, a falta de engajamento político enfraquece a democracia. Uma sociedade verdadeiramente democrática depende da participação ativa de seus cidadãos, não apenas no ato de votar, mas na fiscalização, no debate e na defesa constante dos princípios democráticos. Hannah Arendt, filósofa alemã, também abordou a importância da ação política como um meio de preservar a liberdade e combater o totalitarismo. Para Arendt, a política é o espaço onde a liberdade se realiza, e a omissão nesse campo é, portanto, uma renúncia à própria liberdade.
Os malfeitores da vida pública prosperam na escuridão, onde suas ações passam despercebidas ou sem contestação. A omissão política cria exatamente essa escuridão, permitindo que interesses escusos avancem sem resistência. É nesse vácuo de participação que se formam as bases para o autoritarismo e a perpetuação de sistemas injustos.
Portanto, a participação política não deve ser vista apenas como um direito, mas como um dever cívico. O envolvimento nas questões públicas, seja através do voto, da discussão, da organização comunitária ou da fiscalização das ações governamentais, é fundamental para garantir que o poder seja exercido de maneira justa e transparente. É através dessa participação ativa que se constrói uma sociedade mais equitativa e se impede que os malfeitores ditem os rumos da vida pública.
Negligenciar esse dever é, de certa forma, colaborar com os que desejam manter o poder concentrado nas mãos de poucos, muitas vezes em detrimento dos muitos. Portanto, é essencial que cada cidadão reconheça seu papel na construção de uma sociedade mais justa e democrática, entendendo que a política, gostemos ou não, afeta todos nós. E é precisamente a nossa ação – ou inação – que define o tipo de sociedade em que vivemos.
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