A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O poder tem limites? A resposta de quem manda nas regras do jogo


Quando falamos sobre poder, a pergunta "O poder tem limites?" toca em um dos aspectos centrais da política e da filosofia. Para muitos pensadores, o poder não é algo que pode ser exercido de maneira ilimitada, mas está sempre sujeito a barreiras — sejam elas institucionais, morais ou sociais. O conceito de limite no poder, no entanto, depende de como definimos tanto o poder quanto os mecanismos que podem controlá-lo.

Para começar, o poder é, em termos gerais, a capacidade de um indivíduo ou grupo de influenciar, controlar ou determinar as ações de outros. O filósofo Thomas Hobbes, por exemplo, acreditava que em um estado de natureza, sem governo, todos os indivíduos teriam liberdade total e poder irrestrito. Contudo, esse cenário levaria inevitavelmente a um estado de guerra de "todos contra todos", o que, para ele, justificava a criação de uma autoridade soberana forte, capaz de impor ordem. Assim, na visão hobbesiana, o poder absoluto do soberano seria o limite necessário para controlar os conflitos individuais.

Ao contrário de Hobbes, John Locke argumentava que mesmo a autoridade máxima — o governo — deveria estar limitada por leis e ser legitimada pelo consentimento dos governados. Ele acreditava que o poder só poderia ser legítimo enquanto respeitasse os direitos naturais dos indivíduos, como a vida, a liberdade e a propriedade. Esse pensamento influenciou diretamente a ideia moderna de democracia, onde o poder é restringido por uma série de freios e contrapesos, como a separação dos poderes e os direitos constitucionais.

Outros pensadores, como o sociólogo Max Weber, abordaram a questão do poder pela ótica da legitimidade. Para Weber, o poder se sustenta pela capacidade de quem o exerce de ser visto como legítimo pelos subordinados. Se a legitimidade se dissolve, o poder começa a encontrar seus limites. Líderes autoritários, por exemplo, frequentemente perdem o controle quando seu poder não é mais reconhecido como justo ou eficaz, o que resulta em revoltas, golpes ou desobediência civil.

Ainda mais contemporaneamente, Michel Foucault trouxe a ideia de que o poder não é apenas algo que emana de um único ponto central, como o governo, mas está em todo lugar, em cada estrutura social, e é exercido de forma descentralizada. Assim, os limites do poder estariam menos na figura de uma autoridade específica e mais nas relações sociais e nos mecanismos de controle que as sociedades desenvolvem. Para Foucault, o poder está sempre sendo contestado e recriado, o que cria uma constante negociação de seus limites.

As democracias modernas, por exemplo, são construídas em torno de princípios que buscam limitar o poder. A divisão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário é um dos exemplos mais claros. Esse sistema impede que uma única pessoa ou instituição centralize poder excessivo. Em regimes autoritários, por outro lado, vemos a erosão desses limites. Autocratas frequentemente tentam enfraquecer ou eliminar instituições de controle, como a imprensa livre, o parlamento ou o judiciário independente, para ampliar seu poder. No entanto, como mostram as revoluções históricas, como a Revolução Francesa ou a Primavera Árabe, essa tentativa de concentrar poder pode levar a um ponto de ruptura quando a resistência popular impõe novos limites.

Ao falar dos limites morais e éticos do poder, também podemos olhar para o pensamento de Hannah Arendt, que diferenciava poder de força. Para ela, o verdadeiro poder é algo que surge do coletivo, da ação em conjunto, e não da coerção. Força ou violência, ao contrário, seriam o reconhecimento de que o poder está falhando, pois, uma vez que alguém precisa recorrer à violência para se manter no controle, está demonstrando que perdeu a capacidade de influenciar de maneira legítima.

Assim, o poder encontra seus limites de várias formas. Limites institucionais, como a lei e a Constituição, impedem que o poder se torne irrestrito em democracias. Limites sociais e culturais moldam o que é aceitável em diferentes contextos e também restringem o poder, mesmo em regimes autoritários. E, finalmente, há os limites morais, que, embora mais subjetivos, muitas vezes determinam até onde uma figura ou instituição pode ir antes de perder seu controle ou legitimidade.

Portanto, o poder não é absoluto, embora alguns tentem exercê-lo como se fosse. O seu limite está não apenas nas instituições criadas para controlá-lo, mas também no consentimento e na resistência daqueles sobre os quais é exercido.

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