A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

Quando o hábito apaga o remorso: a banalização do mal na política e no poder


A frase "Os homens nunca sentem remorsos por coisas que estão habituados a fazer" reflete uma análise profunda sobre o comportamento humano e a ética cotidiana, sugerindo que a repetição e a normalização de certas ações acabam por anestesiar a consciência moral. Esse pensamento lembra o conceito de "banalidade do mal", cunhado por Hannah Arendt, para descrever como atos de crueldade podem ser praticados por pessoas comuns sem que estas questionem a moralidade de seus atos, especialmente quando esses atos se tornam rotina ou são incentivados por uma autoridade.

Na política, essa ideia se aplica quando práticas como a corrupção, a manipulação da verdade e o abuso de poder se tornam corriqueiras para alguns grupos ou indivíduos. O poder pode criar uma zona de conforto onde ações, antes vistas como eticamente questionáveis, passam a ser justificadas ou racionalizadas pela força do hábito e pelo contexto ao qual o agente está inserido. Assim, políticos, líderes e agentes do Estado podem desenvolver uma certa "cegueira ética" — um tipo de complacência que impede o questionamento interno de suas próprias ações.

Essa análise também lembra as observações de filósofos como Michel Foucault, que estudou como as estruturas de poder moldam as normas sociais e influenciam o comportamento dos indivíduos, levando-os a internalizar práticas e ideias que servem ao status quo. Segundo Foucault, o poder disciplinar transforma o comportamento ao ponto de tornar certas ações automáticas e não questionadas.

Portanto, a frase destaca um ponto importante sobre como a repetição e o hábito têm o poder de diluir o senso de responsabilidade moral. Em contextos de poder, isso pode levar a uma falta de remorso em ações que, para um observador externo, seriam claramente condenáveis, mas que, para o agente habituado, parecem apenas parte da rotina.

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