A ascensão da queda: a tragédia silenciosa de um povo iludido

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Durante quarenta anos, uma nação foi convencida de que marchava rumo à justiça, quando na verdade se arrastava rumo à decadência. A frase que expõe a queda do Brasil do 40º para o 81º lugar no ranking global de renda não é apenas um dado econômico — é o epitáfio de uma ilusão coletiva. Uma farsa histórica encenada por elites culturais que confundiram piedade com política, equidade com estatismo, e justiça com nivelamento por baixo. Essa é a anatomia de uma regressão orquestrada, em nome de ideais que se proclamam nobres, mas produzem apenas estagnação. Desde o final da ditadura militar, o Brasil viveu um processo profundo de reengenharia ideológica. Em nome da “democratização do saber”, intelectuais militantes ocuparam universidades, redações e escolas com a missão de substituir o mérito pelo ressentimento, e a liberdade pela tutela do Estado. Inspirados por um marxismo tropical, reinventaram o conceito de opressão: toda hierarquia virou injustiça, toda riqueza virou suspeita, e todo s...

A política identitária e suas implicações para o poder político: mobilização e polarização na sociedade


A política identitária se consolidou como uma das mais poderosas ferramentas de mobilização social e de conquista de poder político nas últimas décadas. Essa estratégia, centrada nas identidades de raça, gênero, religião e outras formas de autoidentificação, permite que líderes políticos canalizem demandas específicas e, ao mesmo tempo, criem uma base de apoio leal e engajada. No entanto, apesar do seu potencial para amplificar vozes marginalizadas e gerar engajamento cívico, a política identitária carrega o potencial de polarizar sociedades, acirrando divisões que desafiam a coesão social e o diálogo democrático.

A ascensão da política identitária como recurso político reflete a importância das identidades pessoais e culturais na construção da própria visão de mundo dos indivíduos. Na visão de teóricos como Charles Taylor, a identidade é central para o reconhecimento e a autoestima dos indivíduos, uma vez que a sociedade contemporânea dá grande valor à autenticidade e à expressão individual. A política identitária utiliza esses elementos, incentivando eleitores a se organizarem e votarem em torno de questões que ressoam com suas identidades, seja por causa de um histórico de exclusão ou pela busca de reconhecimento e direitos iguais.

Para políticos e partidos, essa abordagem pode ser um método eficaz para unir grupos em torno de causas que abordem suas preocupações específicas, ajudando a construir um eleitorado fiel. Nos Estados Unidos, por exemplo, o movimento Black Lives Matter (BLM) surgiu em resposta à brutalidade policial contra pessoas negras, mas rapidamente se tornou uma plataforma ampla, atraindo um público diverso e fortalecendo líderes comprometidos com a luta antirracista. Esse tipo de mobilização gera não apenas pressão sobre o sistema político, mas também insere debates fundamentais sobre desigualdade racial e justiça social na agenda pública, criando oportunidades para mudanças concretas. Na América Latina, pautas relacionadas aos direitos das populações indígenas têm desempenhado papel semelhante, dando voz a questões como a posse de terra e o respeito às tradições culturais.

Contudo, a política identitária pode ter um custo alto quando sua retórica exclui a possibilidade de consenso com grupos de diferentes perspectivas ou interesses. À medida que a identidade se torna o centro da mobilização, o debate político tende a se focar em reivindicações particularistas e, muitas vezes, em antagonismos entre grupos identitários. Um exemplo claro disso é o crescimento de movimentos de extrema-direita em reação a pautas identitárias progressistas. Esse fenômeno, conhecido como “backlash”, reflete uma reação de setores que se veem ameaçados por mudanças sociais que, em sua visão, desestabilizam a ordem social vigente. Filósofos como Jürgen Habermas alertaram para os riscos de uma fragmentação excessiva da sociedade, onde a diversidade de identidades torna-se um obstáculo ao debate e ao entendimento coletivo.

A polarização identitária é visível em democracias de todo o mundo e traz à tona um questionamento importante: até que ponto a ênfase na identidade pode reforçar a democracia? Uma resposta possível é que a política identitária pode ser tanto um motor de justiça quanto uma armadilha de sectarismo. A filósofa Nancy Fraser argumenta que é essencial encontrar um equilíbrio entre demandas identitárias e demandas redistributivas, ou seja, entre o reconhecimento das diferenças culturais e a busca pela igualdade econômica. Sem essa combinação, a política identitária corre o risco de se tornar um jogo de soma zero, onde o ganho de um grupo é percebido como uma perda de outro, intensificando rivalidades e enfraquecendo a solidariedade social.

Os meios de comunicação e as redes sociais desempenham um papel significativo na amplificação dessas divisões, muitas vezes incentivando uma retórica que polariza e aprofunda as divisões identitárias. Os algoritmos que priorizam conteúdo altamente engajante acabam favorecendo narrativas que reforçam a identificação de um grupo em detrimento do diálogo entre diferentes pontos de vista. Assim, as redes criam “bolhas de opinião”, onde os indivíduos se isolam de opiniões contrárias e fortalecem ainda mais seu senso de pertencimento grupal. Nesse contexto, identidades políticas tornam-se marcadores rígidos de “nós” contra “eles”, dificultando a colaboração e minando a confiança em instituições democráticas que deveriam agir como pontes para o diálogo.

A política identitária continua sendo, portanto, uma faca de dois gumes: enquanto fortalece a representatividade e possibilita a ascensão de líderes que lutam por justiça social, ela também pode encorajar conflitos que ameaçam a coesão social. O desafio contemporâneo para líderes e partidos políticos é integrar as demandas identitárias de maneira que promovam o pluralismo e, ao mesmo tempo, preservem um espaço comum para a negociação de interesses.

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