A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O segredo na política tem prazo de validade: quando o sigilo vira traição


Essa é uma verdade incontestável no jogo do poder. O sigilo, por mais bem arquitetado que seja, tem prazo de validade. Na política, o que começa nos bastidores inevitavelmente encontra um caminho para o palco principal, seja por vazamentos internos, investigações ou pelo próprio desgaste de alianças. O dinheiro que circula sem transparência, os acordos firmados na calada da noite e as estratégias ocultas podem até sustentar um governo, uma campanha ou uma liderança por um tempo, mas, quando expostos, transformam aliados em inimigos e deixam figuras outrora intocáveis à mercê da opinião pública e da lei.

Maquiavel já advertia que a aparência do poder importa tanto quanto sua essência. Enquanto os líderes conseguem manter a ilusão de controle e honestidade, seguem fortes. Mas basta um escândalo vir à tona para que os mesmos que antes protegiam o segredo sejam os primeiros a se afastar. É o clássico "cada um por si". A delação premiada é um exemplo moderno disso: quando a corda aperta, os envolvidos não hesitam em expor o esquema para salvar a própria pele.

A história está repleta de casos em que o que foi feito no escuro veio à tona com consequências devastadoras. O escândalo de Watergate nos EUA começou com um simples arrombamento, mas revelou um esquema gigantesco de espionagem e abuso de poder, derrubando Nixon. No Brasil, a Lava Jato desvendou um sistema de propinas que operava nos bastidores há décadas, destruindo carreiras e partidos inteiros. O sigilo, que antes protegia, rapidamente se tornou um fardo para quem estava envolvido.

O poder seduz, e a crença de que certos segredos jamais serão descobertos é um dos maiores erros dos políticos. Mas a história mostra que, mais cedo ou mais tarde, a luz chega. E quando isso acontece, quem antes se beneficiava do silêncio precisa encontrar novas formas de se proteger, nem que para isso seja necessário entregar seus próprios aliados.

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