A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O Banquete dos poderosos


Era uma vez, num reino chamado Politicópolis, onde os líderes mais excêntricos e controversos se reuniam para um grande banquete anual, uma espécie de feira onde exibiam suas "virtudes" e trocavam farpas. Entre os convidados mais aguardados estavam dois titãs do palco político: Albério Grandforte, o magnata extravagante, e Gregório Camponês, o carismático operário que sempre tinha uma metáfora no bolso.

No centro do salão, Grandforte, com seu cabelo dourado que lembrava um ninho de águia, falava alto sobre suas conquistas pessoais. “Eu sou um homem que faz negócios com o próprio ouro! Minhas festas, meus prazeres e meus erros – tudo sai do meu bolso! Não vou mendigar moedas públicas para isso.” Ele girava uma taça de vinho enquanto lançava olhares de superioridade aos demais.

Camponês, sentado ao outro lado da mesa, não deixaria barato. Com sua voz rouca, rebateu: “Ah, Albério, tão orgulhoso de gastar seu próprio ouro para alimentar seus caprichos! Mas no meu reino, eu compartilho o pão com o povo! E, se minha companheira gosta de viver bem, é porque ela representa o sonho de milhões – o sonho de uma vida digna e próspera para todos.”

O salão explodiu em risadas e cochichos. Os outros líderes, que incluíam um rei francês obcecado por queijos e um imperador japonês apaixonado por robôs, assistiam à cena com olhos atentos, saboreando a tensão.

Grandforte deu um sorriso sarcástico. “Digno, você diz? Ora, Gregório, enquanto você sustenta a realeza com o cofre público, eu invisto em aventuras privadas. É o meu dinheiro suado! Talvez seja por isso que o povo de Politicópolis me admira – eu sou o símbolo da liberdade individual.”

Camponês bateu na mesa com entusiasmo teatral. “E o que é liberdade, Albério, se não a ilusão dos egoístas? Enquanto você gasta com suas vaidades, eu invisto no coração do meu reino. Minha companheira não é apenas uma dama; é um símbolo de esperança, um testemunho de que até o amor pode ser um ato político.”

A conversa ia se tornando um duelo épico, com os dois líderes oscilando entre provocações mordazes e argumentos filosóficos. Mas então, do fundo do salão, uma voz do povo se ergueu – um jovem camponês com roupas simples que, cansado das disputas, gritou: “E o que fazemos nós, que não temos ouro nem um palácio para compartilhar? Enquanto vocês brigam, seguimos construindo suas torres e lavrando suas terras!”

Um silêncio desconfortável tomou conta do salão. Grandforte coçou o queixo, Camponês ajeitou o paletó, e ambos olharam para o camponês com uma mistura de culpa e curiosidade.

No fim, nenhum deles respondeu. O banquete continuou, mas o eco das palavras do jovem permanecia no ar, lembrando a todos que, por trás dos espetáculos de poder, o povo sempre seria o verdadeiro palco.

E assim, em Politicópolis, as disputas dos líderes seguiam como um teatro eterno – um lembrete de que, no fundo, todo poder é uma comédia de vaidades.

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