A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O fim sem testemunhas: velhice, fama e solidão


A história de Gene Hackman levanta uma questão que vai além da sua morte biológica: quando realmente morremos? Quando o coração para ou quando o mundo para de nos notar? A fama, que um dia iluminou sua trajetória, revelou-se ilusória diante da passagem do tempo. A solidão, essa sombra que se alonga conforme envelhecemos, foi sua última e talvez mais cruel companheira.

O Esquecimento como Morte Antecipada

Shakespeare, em As You Like It, descreveu a velhice como uma "segunda infância", um retorno à dependência e ao esquecimento. Mas há um detalhe ainda mais sombrio: enquanto na infância há expectativa de crescimento, na velhice há apenas a espera do desfecho.

Nietzsche dizia que “quem tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como”. Mas o que acontece quando esse "porquê" se dissolve? A solidão de Gene Hackman sugere que a morte não é apenas um evento biológico, mas um processo social e emocional. Ele foi morrendo aos poucos, à medida que o mundo o deixava para trás.

A Fama: Um Eco que se Dissipa no Tempo

Se a fama fosse um escudo contra o esquecimento, Hackman teria morrido cercado por admiradores. No entanto, a notoriedade, como apontou Sartre, é apenas um reflexo projetado sobre os outros; ela existe enquanto há quem a observe. No momento em que os holofotes se apagam, resta apenas a pessoa, despida da sua imagem pública.

Bauman descreve a modernidade líquida como um tempo em que tudo é efêmero – relações, fama, relevância. Vivemos cercados por ídolos de curta duração, e até os gigantes da cultura podem ser esquecidos rapidamente. Hackman, vencedor de Oscars, estrela de filmes icônicos, viu seu nome dissolver-se na névoa do tempo. De que vale ter sido alguém importante se, no fim, ninguém bate à porta?

A Ilusão da Autossuficiência

Gene Hackman escolheu o isolamento. Acreditou que sua esposa estaria sempre ali, que não precisava de um cuidador ou de amigos por perto. Essa escolha, que durante décadas lhe deu liberdade, tornou-se uma prisão quando a vida se reorganizou sem lhe dar aviso.

Em Ser e Tempo, Heidegger fala sobre a angústia da existência: vivemos como se a morte fosse algo distante, um evento sempre futuro. Não planejamos a finitude porque ela nos aterroriza. Mas o caso de Hackman mostra que é necessário encarar o envelhecimento com lucidez. Construir redes de apoio, aceitar ajuda, preparar-se para o momento em que a independência deixará de ser uma escolha.

O Que Nos Resta?

A morte solitária de Gene Hackman é um espelho de nossa própria fragilidade. Ela nos obriga a refletir sobre o que construímos além do sucesso profissional. Nossas relações resistirão ao tempo? Temos quem nos busque, nos pergunte, nos visite?

A lição mais dura talvez seja esta: viver muito não significa viver bem. E, no fim, somos apenas casas sem luz, se ninguém bater à porta.

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