A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O tesouro nacional e os nobres ministros


Era uma vez, no topo de uma colina de mármore e vidro, um grandioso palácio onde residiam os Sábios da Suprema Cúpula, conhecidos pelo povo como "os Iluminados". Sua missão era nobre: zelar pela democracia e, claro, pelo próprio conforto.

Certo dia, em uma de suas augustas assembleias, um dos ministros, recostado em sua poltrona de couro legítimo, soltou um longo suspiro filosófico:

— Irmãos, que tempos difíceis! Os almoços oficiais já não são os mesmos, a gasolina do carro oficial subiu e, francamente, um salário de seis dígitos já não estica como antes.

Os outros assentiram gravemente, balançando suas cabeças cobertas por perucas imaginárias da nobreza moderna. Foi quando o mais velho entre eles, o Decano, ergueu a mão com a solenidade de quem vai invocar uma verdade absoluta:

— Então que se faça justiça... Aumentemos nossos vencimentos em 16%!

Um leve murmúrio de preocupação percorreu a sala. O Ministro do Equilíbrio Fiscal, conhecido por sua habilidade de transformar gastos em "necessidades da República", coçou o queixo e perguntou:

— Mas, Excelências, de onde virá esse valor?

— Ora! — exclamou o Presidente da Cúpula, apontando para uma pilha de documentos — Do Tesouro, claro!

O silêncio tomou conta do plenário. Alguns ministros entreolharam-se, até que um deles, sempre meticuloso, perguntou:

— E... quem exatamente é o Tesouro?

O Presidente da Cúpula sorriu, com a paciência de um professor explicando a tabuada do dois:

— O Tesouro, caros amigos, é uma entidade benevolente e inesgotável. Ele sempre nos atende.

Ainda assim, um jovem ministro, recém-chegado à casa, ousou insistir:

— Mas, de onde o Tesouro tira esse dinheiro?

O Decano, já cansado das indagações, fez um gesto largo e respondeu com voz triunfante:

— Do povo, é claro! Mas veja bem, chamamos o povo de "Tesouro", pois é mais elegante, e eles se sentem prestigiados.

Os ministros se entreolharam, piscando lentamente. Era verdade! Que outro governo chamava seu povo de "Tesouro" com tanta ternura?

E assim, o aumento foi decretado. Enquanto isso, do lado de fora do palácio, o verdadeiro Tesouro — um padeiro, uma professora, um motoboy e uma senhora aposentada — olhavam seus boletos e pensavam:

— Que bonito... finalmente nos deram um nome à altura.

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