A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

Um exemplo clássico dessa abordagem é a reconciliação promovida por Abraham Lincoln durante a Guerra Civil dos EUA. Em vez de humilhar os estados do Sul derrotados, Lincoln buscou uma reunificação pacífica, compreendendo que a destruição total do adversário gera resistência e instabilidade. Essa mesma lógica foi usada por Mandela ao assumir a presidência da África do Sul: ao invés de perseguir seus antigos algozes do regime do apartheid, ele os integrou ao novo governo, desmontando a resistência da elite branca e evitando uma guerra civil.
Do ponto de vista teórico, Maquiavel alerta que os governantes devem evitar tanto o ódio excessivo quanto a benevolência ingênua. Em "O Príncipe", ele argumenta que um líder deve ser temido, mas não odiado, pois o ódio gera revoltas. Já Sun Tzu, em "A Arte da Guerra", ensina que a melhor vitória é aquela obtida sem precisar lutar – e frequentemente, ganhar a confiança do inimigo é a forma mais eficaz de derrotá-lo.
Na política moderna, essa estratégia é evidente em líderes que cooptam opositores para seus governos, dividindo a resistência e garantindo estabilidade. Franklin D. Roosevelt, por exemplo, ao enfrentar a crise da Grande Depressão, nomeou figuras de diferentes espectros políticos para cargos estratégicos, evitando que se formasse um bloco unificado contra ele. No Brasil, Getúlio Vargas fez algo semelhante ao absorver setores da elite industrial e do movimento trabalhista, garantindo apoio de ambos os lados.
O erro de muitos políticos é subestimar seus inimigos ou tratá-los com hostilidade aberta. Isso só fortalece a oposição e cria mártires. Em vez disso, líderes sagazes convertem rivais em aliados temporários, enfraquecendo sua capacidade de resistência. O amor ao inimigo, na política, não significa moralidade pura, mas sim uma ferramenta para alcançar e manter o poder com inteligência.
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