A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

O idealismo como máscara do poder: quando a virtude esconde ambições


A política é repleta de discursos inflamados sobre justiça, igualdade e progresso. Líderes e movimentos se apresentam como portadores de ideais nobres, prontos para transformar o mundo. No entanto, um olhar mais cético revela que, muitas vezes, esse idealismo é apenas um verniz que encobre a busca pelo poder. A história está cheia de exemplos de figuras que, sob o pretexto de defender grandes causas, consolidaram sua influência e ampliaram sua autoridade.

Maquiavel já alertava que a política não se move apenas por princípios morais, mas por interesses e estratégias. Segundo ele, um governante deve parecer virtuoso, ainda que sua verdadeira intenção seja a manutenção do poder. Isso se aplica não apenas a governantes, mas a movimentos políticos inteiros que, sob o pretexto de lutar por um bem maior, na realidade, buscam apenas ocupar espaços de influência.

Karl Marx via o idealismo como uma forma de ideologia, um conjunto de crenças que mascara os interesses reais de determinada classe. Líderes revolucionários, por exemplo, frequentemente justificam sua ascensão como um passo necessário para alcançar uma sociedade mais justa, mas, na prática, tornam-se tão autoritários quanto aqueles que substituíram. A Revolução Russa de 1917 começou com promessas de igualdade, mas rapidamente levou à consolidação do poder na figura de Stálin. O ideal de libertação deu lugar ao culto à personalidade e ao controle estatal absoluto.

Mesmo na democracia, esse fenômeno é evidente. Políticos eleitos com discursos de renovação frequentemente usam a bandeira do idealismo para justificar práticas que servem mais à sua manutenção no cargo do que ao interesse público. O messianismo político, onde um líder se coloca como o único capaz de guiar a nação, é um exemplo claro dessa manipulação. O carisma e os princípios são utilizados para mobilizar massas, mas, no fundo, a lógica do poder permanece a mesma.

O idealismo, portanto, não deve ser aceito sem questionamento. Ele pode ser sincero em alguns casos, mas a história mostra que, muitas vezes, é apenas uma ferramenta para conquistar e perpetuar o poder. O verdadeiro desafio não é acreditar cegamente nos discursos, mas identificar até que ponto eles servem ao bem comum ou apenas a quem os profere.

Comentários

  1. Muito bom. A própria democracia tem o recuso do uso indevido da liberdade de opinião para possibilitar este tipo de idealismo.

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