A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

Se for ferir, fira de forma irreversível


Lei do Poder: Nunca deixe um inimigo vivo o suficiente para se vingar. A ferida deve ser fatal ou você sofrerá as consequências da misericórdia mal calculada.

A história é impiedosa com aqueles que deixam seus inimigos respirar. O líder que hesita, que fere mas não mata, que enfraquece mas não destrói, inevitavelmente cairá pela mão daquele a quem concedeu uma segunda chance. Se for necessário ferir um oponente, é essencial garantir que ele jamais tenha forças para se recuperar. Caso contrário, a vingança será apenas uma questão de tempo.

Nicolau Maquiavel alertava para esse erro em O Príncipe: um governante pode até perdoar pequenas ofensas, mas jamais deve deixar um inimigo parcialmente derrotado. Um adversário ferido carrega ódio e determinação, e sua vingança será muito mais feroz do que o primeiro ataque.

Júlio César cometeu um erro fatal ao permitir que alguns de seus inimigos políticos permanecessem no Senado. Ele acreditou que sua magnanimidade garantiria lealdade, mas, em vez disso, deu a seus inimigos a oportunidade perfeita para matá-lo. Brutus e os outros conspiradores, poupados por César em momentos anteriores, foram os mesmos que o esfaquearam até a morte nos degraus do Senado. Se César tivesse sido mais implacável, Roma jamais teria testemunhado sua queda.

O czar Nicolau II da Rússia também ignorou essa regra. Durante seu governo, ele tolerou a oposição, tentou concessões e subestimou a crescente fúria da revolução. Quando a Revolução Russa eclodiu, ele foi capturado pelos bolcheviques, que não cometeram o mesmo erro. Eles não apenas o depuseram, mas garantiram que nenhum membro da família Romanov permanecesse vivo para reivindicar o trono.

Josef Stálin, por outro lado, compreendeu perfeitamente essa lição. Durante seus expurgos políticos, ele não se limitou a exilar ou enfraquecer seus adversários—ele os exterminou. Trotsky, seu maior rival, foi forçado ao exílio, mas Stálin sabia que isso não era suficiente. Trotsky continuava a escrever e a influenciar opositores do regime soviético. Em 1940, um assassino a mando de Stálin desferiu o golpe final com uma picareta de alpinismo no crânio de Trotsky. Não bastava apenas derrotá-lo; era necessário garantir que ele jamais pudesse ressurgir.

Napoleão Bonaparte também aplicou essa regra com precisão. Após sua vitória na Revolução Francesa, ele sabia que os monarquistas ainda representavam uma ameaça. Em vez de simplesmente enfraquecê-los, ele os perseguiu, exilou e garantiu que não pudessem retomar o poder. No entanto, em 1814, ao ser exilado para a Ilha de Elba, seus inimigos não seguiram a mesma estratégia. Permitiram que ele vivesse e, um ano depois, Napoleão retornou e retomou o trono francês. Se os monarquistas tivessem aprendido com ele, a França não teria enfrentado mais uma guerra.

O único momento em que vale a pena manter um inimigo vivo é quando ele pode ser usado como uma ferramenta de manipulação. Às vezes, um adversário derrotado pode servir de exemplo para outros, como um monarca que mantém um traidor preso para assustar futuros conspiradores. Mas essa é uma estratégia perigosa—um inimigo humilhado pode se tornar um mártir e reunir apoio para um contra-ataque. Se houver qualquer risco de que ele se recupere e busque vingança, não hesite.

O poder não é para os sentimentais. A história não celebra aqueles que mostram piedade indevida, mas sim aqueles que garantem que seus inimigos nunca tenham a chance de se erguer novamente. Quando for necessário atacar, ataque com força total. Quando precisar destruir, destrua por completo. Nada é mais perigoso do que um inimigo que sobreviveu para acertar as contas.

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