A ascensão da queda: a tragédia silenciosa de um povo iludido

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Durante quarenta anos, uma nação foi convencida de que marchava rumo à justiça, quando na verdade se arrastava rumo à decadência. A frase que expõe a queda do Brasil do 40º para o 81º lugar no ranking global de renda não é apenas um dado econômico — é o epitáfio de uma ilusão coletiva. Uma farsa histórica encenada por elites culturais que confundiram piedade com política, equidade com estatismo, e justiça com nivelamento por baixo. Essa é a anatomia de uma regressão orquestrada, em nome de ideais que se proclamam nobres, mas produzem apenas estagnação. Desde o final da ditadura militar, o Brasil viveu um processo profundo de reengenharia ideológica. Em nome da “democratização do saber”, intelectuais militantes ocuparam universidades, redações e escolas com a missão de substituir o mérito pelo ressentimento, e a liberdade pela tutela do Estado. Inspirados por um marxismo tropical, reinventaram o conceito de opressão: toda hierarquia virou injustiça, toda riqueza virou suspeita, e todo s...

É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade



No coração da política pulsa um paradoxo inquietante: muitos desejam o poder como se nele estivesse a suprema liberdade, quando, na verdade, o poder — especialmente o poder institucionalizado — frequentemente exige a renúncia à autonomia pessoal, à espontaneidade e, em certos casos, à própria verdade.

A frase de Francis Bacon desnuda uma contradição essencial da natureza humana. Por que ansiamos por dominar, comandar, decidir, se isso nos amarra em compromissos, obrigações, aparências, vigilância e julgamentos constantes? O político que ascende ao topo da hierarquia estatal ou partidária logo descobre que não é mais senhor de sua agenda, de suas palavras, nem de seus silêncios. Cada gesto é interpretado, cada decisão cobrada, cada recuo visto como fraqueza. A liberdade que possuía enquanto cidadão comum é substituída por uma vigilância pública que lhe prende os movimentos.

O desejo pelo poder muitas vezes nasce de um impulso legítimo: transformar realidades, proteger os vulneráveis, promover a justiça. Mas, ao longo do caminho, esse impulso pode ser corroído pela necessidade de manter a posição conquistada. A busca por aprovação, a lógica da conveniência e o medo de perder a autoridade vão lentamente sufocando o idealismo original. O governante que ontem falava como profeta, hoje silencia como prisioneiro de seus próprios aliados.

O poder verdadeiro, quando maduro, não reside na imposição sobre os outros, mas na capacidade de influenciar com sabedoria e manter-se íntegro diante das tentações da máquina política. No entanto, este tipo de poder exige uma liberdade interior muito mais rara do que a maioria imagina. A liberdade de não ceder à vaidade, de não se curvar aos conchavos, de dizer “não” quando todos esperam o “sim”.

Nesse sentido, o verdadeiro estadista é aquele que aprende a exercer o poder sem ser escravo dele. Que compreende que o trono pode ser, ao mesmo tempo, um altar e uma prisão. Que sabe que há mais liberdade em abdicar conscientemente do poder do que em conquistá-lo a qualquer custo.

Política, então, é esse campo onde a liberdade e o poder travam uma batalha silenciosa. O desejo de poder pode transformar-se em um desejo de controle absoluto — e, nesse instante, morre a liberdade. Morre a autenticidade. Resta apenas a máscara do cargo, a ilusão de comando, a gaiola dourada da autoridade.

Bacon nos alerta: há um preço no jogo do poder. E nem sempre quem o conquista é, de fato, o mais livre. Talvez o maior desafio político de nosso tempo seja este: resgatar líderes que, ao desejarem o poder, não se esqueçam de preservar aquilo que o torna legítimo — a liberdade de consciência, a coerência moral, a fidelidade ao bem comum.

Porque perder a liberdade para ter poder... é, de fato, um desejo estranho. E perigosamente humano.


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