A ascensão da queda: a tragédia silenciosa de um povo iludido

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Durante quarenta anos, uma nação foi convencida de que marchava rumo à justiça, quando na verdade se arrastava rumo à decadência. A frase que expõe a queda do Brasil do 40º para o 81º lugar no ranking global de renda não é apenas um dado econômico — é o epitáfio de uma ilusão coletiva. Uma farsa histórica encenada por elites culturais que confundiram piedade com política, equidade com estatismo, e justiça com nivelamento por baixo. Essa é a anatomia de uma regressão orquestrada, em nome de ideais que se proclamam nobres, mas produzem apenas estagnação. Desde o final da ditadura militar, o Brasil viveu um processo profundo de reengenharia ideológica. Em nome da “democratização do saber”, intelectuais militantes ocuparam universidades, redações e escolas com a missão de substituir o mérito pelo ressentimento, e a liberdade pela tutela do Estado. Inspirados por um marxismo tropical, reinventaram o conceito de opressão: toda hierarquia virou injustiça, toda riqueza virou suspeita, e todo s...

O silêncio que mata: a agonia das democracias sem voz


Em tempos de convulsão política, é comum associarmos o fim das democracias ao estrondo dos tanques nas ruas, ao som metálico dos coturnos que esmagam liberdades sob a justificativa da ordem. No entanto, a erosão mais sutil — e portanto mais perigosa — do regime democrático não se dá no campo de batalha, mas nas redações emudecidas, nos jornais que trocam denúncia por complacência, nos editoriais que, por covardia ou conivência, deixam de falar quando o clamor é necessário. A frase “Democracias não morrem com tanques, mas com editoriais calados” revela essa verdade insidiosa: o autoritarismo não chega anunciando guerra; ele se infiltra no silêncio.

A história do poder é marcada por regimes que não precisaram de golpes ostensivos para sufocar a democracia. O nazismo ascendeu com eleições, o autoritarismo húngaro se consolidou por emendas legais, e diversas ditaduras latino-americanas contaram com o apoio ou a omissão de elites midiáticas. O inimigo da democracia não é apenas o general armado, mas o editorial que se omite, o jornalista que se cala, o veículo que se vende. A imprensa livre é a primeira trincheira da liberdade; quando ela se rende, todo o sistema político se desestrutura como um corpo cujo coração foi silenciado.

O poder — como nos ensinaram Maquiavel e Weber — não é apenas o uso da força, mas sobretudo a capacidade de moldar narrativas, legitimar discursos e construir realidades simbólicas. Quando os formadores de opinião abandonam sua função crítica, deixam de ser cães de guarda da República e tornam-se cães adestrados do regime. O editorial calado é o prenúncio do autoritarismo que se mascara de legalidade. O silêncio editorial não é neutro: é um posicionamento político a favor do status quo, ainda que este esteja corrompido, apodrecido ou em franca regressão democrática.

O caso da Venezuela, onde grande parte da mídia foi cooptada ou silenciada antes mesmo da derrocada final das instituições, é exemplar. Também no Brasil, em diferentes momentos da história, o silêncio da grande imprensa precedeu a repressão. A autocensura, o medo da retaliação econômica, os acordos subterrâneos entre imprensa e poder corroem lentamente a opinião pública, tornando-a apática e vulnerável à manipulação. Quando os editoriais se calam, o povo já não sabe em quem confiar — e então aceita o líder que fala mais alto, ainda que ele grite inverdades.

A lição para líderes e cidadãos é inequívoca: o poder deve temer o jornalismo, e não o contrário. A governança saudável requer confronto, crítica, exposição constante. Um governante que não é criticado é um governante perigoso. Um veículo de imprensa que não incomoda, é irrelevante ou cúmplice. A democracia é sustentada menos por votos e mais por vozes — e quando estas se calam, o povo vota às cegas, ou pior, vota no seu próprio opressor.

Concluo com um aviso aos estrategistas, políticos e dirigentes: nunca subestime o silêncio da imprensa — ele pode ser o prenúncio da noite mais longa. E aos que ocupam a caneta editorial, um lembrete brutal: cada linha que vocês deixam de escrever é uma linha que o autoritarismo preencherá com censura, medo e obediência. Em democracias verdadeiras, a imprensa é espada e escudo. Quando ela se cala, o inimigo já entrou no castelo.

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