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Mostrando postagens de junho, 2025

A arte de ocultar correntes: como a política aperfeiçoou o disfarce da opressão

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Desde os tempos mais remotos, a política tem se erguido como o campo privilegiado da disputa pelo comando das consciências, mais do que pela mera condução dos corpos. O enunciado — "A política se tornou a arte de impedir que as massas se apercebam da opressão que sofrem" — sintetiza com precisão a mutação sofisticada do poder: de brutal e ostensivo, como nas tiranias clássicas, para dissimulado e consensual, como nas democracias de fachada e nos regimes tecnocráticos contemporâneos. O poder, que outrora se exercia com a espada e o açoite, hoje se perpetua através da manipulação simbólica, da produção de narrativas e do controle sutil dos desejos e percepções. O século XX foi o grande laboratório dessa transformação. A escola de Frankfurt, sobretudo com Herbert Marcuse e a sua "sociedade unidimensional", já denunciava o surgimento de uma ordem política onde a opressão não mais se sustentava na coerção explícita, mas na fabricação de uma cultura que anestesia e neutra...

A tolerância do poder e o limite da palavra

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O poder, em sua essência, não é um ente moral ou imoral — ele é, sobretudo, instintivo. Seu primeiro mandamento é a preservação; seu segundo, o domínio. A frase “O poder é tolerante, até que alguém tente derrubá-lo com palavras” revela uma das verdades mais delicadas da governança: o poder suporta a crítica, o confronto e até mesmo o erro — até o instante em que identifica, nas palavras de um opositor, o germe da insubordinação que ameaça sua estabilidade. A linguagem, quando articulada com intenção estratégica, é tão perigosa quanto um exército em marcha. Por isso, regimes, governos e lideranças reagem com desproporção quando atacados não por armas, mas por discursos. Historicamente, a palavra sempre foi o início da revolução. Antes da Queda da Bastilha, houve os panfletos de Rousseau e as tiradas de Voltaire; antes da Revolução Russa, os textos incendiários de Lênin e a retórica inflamável de Trotsky; antes das ditaduras latino-americanas, os manifestos, as músicas de protesto, os jo...

O silêncio que mata: a agonia das democracias sem voz

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Em tempos de convulsão política, é comum associarmos o fim das democracias ao estrondo dos tanques nas ruas, ao som metálico dos coturnos que esmagam liberdades sob a justificativa da ordem. No entanto, a erosão mais sutil — e portanto mais perigosa — do regime democrático não se dá no campo de batalha, mas nas redações emudecidas, nos jornais que trocam denúncia por complacência, nos editoriais que, por covardia ou conivência, deixam de falar quando o clamor é necessário. A frase “Democracias não morrem com tanques, mas com editoriais calados” revela essa verdade insidiosa: o autoritarismo não chega anunciando guerra; ele se infiltra no silêncio. A história do poder é marcada por regimes que não precisaram de golpes ostensivos para sufocar a democracia. O nazismo ascendeu com eleições, o autoritarismo húngaro se consolidou por emendas legais, e diversas ditaduras latino-americanas contaram com o apoio ou a omissão de elites midiáticas. O inimigo da democracia não é apenas o general ar...

O fardo invisível: o poder como responsabilidade inescapável

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Desde as origens das civilizações, o poder nunca foi apenas um direito ou um privilégio; ele é, sobretudo, uma responsabilidade. A célebre máxima — “com o poder vem a responsabilidade” — imortalizada na cultura popular e reverberada nas cúpulas do pensamento político, traduz uma verdade elementar das dinâmicas de liderança: o poder não existe no vácuo, tampouco se sustenta apenas pela força. Ele exige prestação de contas, implica obrigações morais, institucionais e estratégicas. Na política, na guerra ou na administração, todo aquele que ascende ao poder carrega consigo o peso invisível das expectativas coletivas, das consequências futuras e das responsabilidades intransferíveis. Historicamente, os grandes líderes compreenderam que o poder é uma lâmina de dois gumes: pode engrandecer ou destruir. Alexandre, o Grande, ao conquistar vastos territórios, compreendeu que seu poder não era apenas o de impor a espada, mas também o de administrar povos, culturas e tradições diversas. O mesmo s...

O silêncio que mata: a agonia das democracias sem voz

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Em tempos de convulsão política, é comum associarmos o fim das democracias ao estrondo dos tanques nas ruas, ao som metálico dos coturnos que esmagam liberdades sob a justificativa da ordem. No entanto, a erosão mais sutil — e portanto mais perigosa — do regime democrático não se dá no campo de batalha, mas nas redações emudecidas, nos jornais que trocam denúncia por complacência, nos editoriais que, por covardia ou conivência, deixam de falar quando o clamor é necessário. A frase “Democracias não morrem com tanques, mas com editoriais calados” revela essa verdade insidiosa: o autoritarismo não chega anunciando guerra; ele se infiltra no silêncio. A história do poder é marcada por regimes que não precisaram de golpes ostensivos para sufocar a democracia. O nazismo ascendeu com eleições, o autoritarismo húngaro se consolidou por emendas legais, e diversas ditaduras latino-americanas contaram com o apoio ou a omissão de elites midiáticas. O inimigo da democracia não é apenas o general ar...

A tolerância do poder e o limite da palavra

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O poder, em sua essência, não é um ente moral ou imoral — ele é, sobretudo, instintivo. Seu primeiro mandamento é a preservação; seu segundo, o domínio. A frase “O poder é tolerante, até que alguém tente derrubá-lo com palavras” revela uma das verdades mais delicadas da governança: o poder suporta a crítica, o confronto e até mesmo o erro — até o instante em que identifica, nas palavras de um opositor, o germe da insubordinação que ameaça sua estabilidade. A linguagem, quando articulada com intenção estratégica, é tão perigosa quanto um exército em marcha. Por isso, regimes, governos e lideranças reagem com desproporção quando atacados não por armas, mas por discursos. Historicamente, a palavra sempre foi o início da revolução. Antes da Queda da Bastilha, houve os panfletos de Rousseau e as tiradas de Voltaire; antes da Revolução Russa, os textos incendiários de Lênin e a retórica inflamável de Trotsky; antes das ditaduras latino-americanas, os manifestos, as músicas de protesto, os jo...

O silêncio dos cúmplices: como a tirania se alimenta da omissão

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Não é com tanques nas ruas ou decretos em praça pública que a tirania firma suas raízes. É no cotidiano desapercebido, na covardia revestida de prudência, no medo disfarçado de neutralidade que ela se consolida. A frase que nos guia — “Quando a tirania se instala, não se ouvem canhões — apenas os silêncios daqueles que deixaram de falar” — não é apenas uma constatação melancólica, é uma acusação histórica. Um espelho incômodo diante das elites omissas, dos intelectuais tímidos, dos cidadãos adaptáveis. Ao longo da história, regimes opressivos raramente nasceram em meio ao clamor bélico. Mesmo Hitler ascendeu pelo voto e pelo silêncio de uma república fatigada. Mussolini foi recebido com aplausos por uma burguesia que preferia ordem à liberdade. No Brasil, o AI-5 não foi precedido por explosões, mas por editoriais coniventes e reuniões silenciosas. A tirania não grita, ela sussurra — e conta com a surdez voluntária dos que poderiam contestá-la. O mecanismo é simples e perverso: primeiro...

É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade

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No coração da política pulsa um paradoxo inquietante: muitos desejam o poder como se nele estivesse a suprema liberdade, quando, na verdade, o poder — especialmente o poder institucionalizado — frequentemente exige a renúncia à autonomia pessoal, à espontaneidade e, em certos casos, à própria verdade. A frase de Francis Bacon desnuda uma contradição essencial da natureza humana. Por que ansiamos por dominar, comandar, decidir, se isso nos amarra em compromissos, obrigações, aparências, vigilância e julgamentos constantes? O político que ascende ao topo da hierarquia estatal ou partidária logo descobre que não é mais senhor de sua agenda, de suas palavras, nem de seus silêncios. Cada gesto é interpretado, cada decisão cobrada, cada recuo visto como fraqueza. A liberdade que possuía enquanto cidadão comum é substituída por uma vigilância pública que lhe prende os movimentos. O desejo pelo poder muitas vezes nasce de um impulso legítimo: transformar realidades, proteger os vulneráveis, pr...

A fraqueza como origem do poder: a anatomia da ânsia política

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A frase “A ânsia de poder não é originada da força, mas da fraqueza” revela uma das mais desconfortáveis verdades do exercício político: o impulso para dominar, controlar e influenciar muitas vezes não nasce de virtudes robustas, mas de inseguranças ocultas, carências emocionais e ambições mal resolvidas. À primeira vista, o poder parece ser o troféu dos fortes. Mas, em sua raiz mais profunda, ele frequentemente é a muleta dos fracos — daqueles que, temendo sua própria insignificância, buscam no domínio dos outros uma compensação para sua instabilidade interior. Na política, é comum que a ânsia por poder seja confundida com liderança, bravura e visão. No entanto, muitos líderes que ascendem ao topo o fazem movidos por um medo visceral: o de não serem ouvidos, de não importarem, de desaparecerem na anonimidade da multidão. Essa fraqueza existencial — o medo de não deixar marcas — gera uma busca obsessiva pelo controle. O cargo, o título, a influência tornam-se escudos para ocultar o vaz...